conversas pela metade

(escrevi isso ontem, quando a rede do II saiu do ar...)

Uma e pouco da tarde. Estou passando pela Praça da Matriz em Porto Alegre, indo pegar o ônibus pra ir pro campus. Um pregador duma dessas igrejas neo-apocalípticas esbraveja no meio da praça. Eu não estava prestando muita atenção. Estava tentando distrair a minha cabeça do grande stress por que eu estou passando, e me vieram flashes do que o cara tava falando.

– Por que o Senhor não-sei-quê-lá ... e aqueles que não-sei-quê-lá ... vão conhecer ... não-sei-quê-lá ... do Senhor!

Por reflexo, larguei um prazeroso "tsc, tsc", acompanhado pelo gesto correspondente — e inevitável — com a cabeça. Já seguindo o meu caminho, peguei mais uns flashes da conversa do cara.

– Aquele ali, ó, balançou a cabeça! Ele deve ... (efeito doppler).

Depois pensando, me dei conta que teria sido engraçado ter ouvido o que ele falou de mim.

Entro no ônibus. No começo do trajeto, mais um pepino me chega por telefone. Passo o resto da viagem pensando como é chato ter que lidar com um determinado tipo de gente ... (isso é um desabafo, é pra ficar no ar mesmo. Se eu der detalhes eu posso ter problemas ;-))

Já subindo pro Instituto, passando pelo Departamento de Genética ... mais uma conversa pelo meio. Dessa vez eu não estava envolvido de forma nenhuma.

– aí o pessoal do MST disse ...
MST ou MCT?
– ah não, não, hahaha, MCT, MCT ... sai pra lá ... hahaha
– é ... por que se você é amigo desse pessoal aí ... hehehe ...

A mídia do deus-mercado conseguiu. Eu senti o preconceito na minha espinha. Se as pesoas na universidade pensam assim, imagina ...